Seguro desemprego bate recorde em junho, com R$ 3,5 bilhões pagos

Mesmo com recuo de 32% em novos pedidos, desembolsos com o benefício somam R$ 3,5 bilhões. Para analistas, números vão continuar elevados, pois retomada da economia será lenta, e a taxa de desocupação deve crescer

Mais de 2,5 milhões de brasileiros já recorreram ao seguro-desemprego na pandemia do novo coronavírus. A procura pelo benefício disparou logo no início da quarentena e alcançou o ápice em abril e maio. Em junho, houve desaceleração. Mesmo assim, o governo teve o maior desembolso mensal da história do benefício: R$ 3,5 bilhões.

 

De acordo com o Ministério da Economia, 635 mil trabalhadores solicitaram o seguro-desemprego no mês passado. O número foi 32% menor que o de maio, quando houve 960 mil solicitações. Mas ainda ficou 28,4% acima do registrado em junho de 2019.
Por isso, segundo especialistas, a crise causada pelo novo coronavírus segue deteriorando o mercado de trabalho brasileiro, mesmo que de forma menos intensa. Foi na pandemia, por sinal, que 65% de todos os pedidos de seguro-desemprego deste ano foram registrados. Ao todo, foram 3,95 milhões de solicitações no primeiro semestre, 14% a mais que no mesmo período do ano passado.

“A pressão inicial foi imensa, com muitas demissões. Então, era esperado uma acomodação agora que o ajuste maior já foi feito. Mas isso não significa que o cenário é positivo. A quantidade de solicitações ainda é enorme e o mercado segue se acomodando ao abalo da pandemia”, comentou o economista e professor da FEA-USP, Wilson Amorim.

“Mesmo desacelerando, os números vão continuar altos nos próximos meses. Ainda há muita incerteza sobre a economia e a retomada vai ser lenta. Então, muitas empresas podem não ter uma retomada total das suas atividades e voltar a fazer demissões”, acrescentou a economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause.

Ela lembrou também que, por conta desse cenário, nem todos os desempregados vão ser reintegrados ao mercado nos próximos meses. “A taxa de desemprego vai continuar pressionada. Projeções indicam ela vai saltar dos atuais 12,9% para quase 16% neste ano”, disse.

Custo

A inclusão repentina de 2,5 milhões de trabalhadores na fila do desemprego elevou em 28% o custo do seguro. De acordo com os dados do governo, 2,69 milhões de trabalhadores receberam o benefício no mês passado, com uma parcela média de R$ 1.321,08. Por isso, o desembolso subiu para R$ 3,55 bilhões em junho, bem mais que os R$ 2,77 bilhões registrados no mês anterior. E é o maior valor da série histórica. O recorde anterior havia sido registrado em agosto de 2016: R$ 3,37 bilhões.

Economistas acreditam que o custo deve continuar alto, já que o número de pedidos de seguro-desemprego continua acima dos patamares usuais. Além disso, há estudos no governo sobre a possibilidade de prorrogar o benefício, que hoje é pago por três a cinco meses, por mais dois meses no período de calamidade pública causado pela pandemia.

O secretário de trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, já assegurou em outras situações que há recursos suficientes para o benefício no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O FAT destinou R$ 40 bilhões para o orçamento do seguro-desemprego neste ano. No primeiro semestre, foram usados R$ 16,8 bilhões. “Os recursos são suficientes. Mesmo que faltasse dinheiro, o governo poderia emitir um crédito extraordinário para isso”, afirmou o economista e professor da UnB Newton Marques.

A Secretaria de Trabalho avaliou que a procura pelo seguro-desemprego seria muito maior caso o governo não tivesse permitido a realização de acordos de redução salarial ou suspensão do contrato de trabalho na pandemia por meio da Medida Provisória nº 936. De acordo com o órgão, a MP preservou 12,2 milhões de empregos em junho.

“Não existe sumir dinheiro”

A Caixa Econômica Federal (CEF) disse ontem que não é a responsável pelo “sumiço de dinheiro” do auxílio emergencial, relatado nos últimos dias por clientes do Nubank e do PicPay. “Não existe sumir dinheiro de conta, principalmente em uma instituição financeira de 159 anos que é a Caixa Econômica”, afirmou o vice-presidente de tecnologia do banco, Claudio Salituro.

“A Caixa não é a responsável pela custódia do dinheiro na conta de qualquer outra instituição financeira”, disse Salituro. “Quando o dinheiro sai da Caixa e vai para alguma instituição financeira, entrou na conta do cliente, o custodiante é a empresa que recebeu o crédito”, disse.

Nubank e PicPay haviam creditado a falha a um problema de tecnologia da Caixa. As empresas disseram que o dinheiro havia sido debitado das contas dos clientes porque a Caixa havia sinalizado um depósito em duplicidade que precisava ser corrigido.
“Alguns clientes fizeram uso do mesmo código de barra e pagaram o mesmo valor. Então, a empresa foi verificar se aqueles boletos estavam em duplicidade ou não”, explicou Salituro. E emendou: “a retirada do dinheiro ou não é facultada à Caixa”.
TCU

Ainda ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou pedido do Ministério Público de Contas para que fosse suspenso o repasse do auxílio emergencial de R$ 600 até que o governo federal comprovasse a viabilidade financeira para o pagamento de novas parcelas.

O MP argumentou que a prorrogação do auxílio por mais dois meses, anunciada no mês passado, exigiria análise sobre o estágio da pandemia de covid-19 nas várias regiões do país, “considerando a volta ao funcionamento de vários setores econômicos não essenciais”.

Dantas, porém, ressaltou que o auxílio “é um gasto eminentemente social implementado em caráter de urgência”. Portanto, “diante da notória necessidade de prorrogação do benefício”, pode haver “menor rigor nas exigências para sua operacionalização”. “Do contrário, corre-se o risco de prejudicar a própria efetividade do programa, comprometendo a sobrevivência de milhares de famílias.” (MB e Sarah Teófilo)

Fone: Correio Braziliense