O comércio e os serviços aparecem como os setores que mais demitiram no ano passado. E mulheres, na grande maioria.
A face mais comum do desemprego é a feminina. Tem rostos como o de Maíra, que trabalhava em uma agência de viagens antes da pandemia trancar o mundo. Ela ficou grávida e, quando voltou da licença-maternidade, foi demitida porque a empresa faliu.
“Fui desligada em dezembro e desde então venho procurando emprego, inclusive de outras funções, em outras áreas, e não tenho conseguido”, conta Maíra Poleto Rotatori, operadora de turismo desempregada.
Uma análise dos dados do Ministério do Trabalho mostra que os efeitos da pandemia no emprego foram mais cruéis para as mulheres.
No ano passado, 480 mil postos com carteira assinada foram perdidos, e mais de 462 mil eram ocupados por mulheres. Ou seja: mais de 96%.
Os números aprofundaram ainda mais uma desigualdade já conhecida, diz o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
“A pandemia acabou intensificando e ampliando essa desigualdade de gênero no mercado de trabalho. E ainda hoje, a gente vive numa sociedade em que boa parte das tarefas domésticas e dos cuidados com as crianças acabam recaindo sobre as mulheres”, explica.
“Algumas oportunidades que surgiram nesse período foram na informalidade e na maior parte com salário e benefícios muito inferiores aos que a gente tinha antes”, diz Maíra.
“Setores que empregam mais mulheres, que é o setor de comércio e de serviços, que são os mais dependentes da circulação de pessoas, foram os mais afetados pela pandemia, e eles são os últimos a se recuperar”, afirma Bruno Imaizumi.
De 2019 para 2020, enquanto construção e indústria apresentaram aumento de vagas, agricultura e principalmente comércio e serviços viram os números despencarem.
Isso significa que, para que as mulheres possam voltar para o mercado de trabalho formal, comércio e serviço precisam reagir. O que ainda não aconteceu com força suficiente, dizem os economistas. Por isso, a recuperação do emprego deve ser bastante desigual, com as mulheres no fim da fila, e mais difícil ainda para as menos qualificadas.
A pesquisadora Janaína Feijó, da FGV/Ibre, diz o que é preciso buscar para conseguir uma nova colocação.
“As mulheres, nesse novo cenário, precisarão estar mais escolarizadas e obter mais conhecimento. Então as mulheres que vêm de contextos socioeconômicos mais desfavoráveis, elas procurarão se reinserir, mas, provavelmente, só conseguirão estar ocupadas em atividades informais”, explica.
Fonte: G1