Mais de 1,9 milhão pedem seguro-desemprego desde início da pandemia

Mais de 1,9 milhão de brasileiros recorreram ao benefício desde a segunda quinzena de março, quando a pandemia do novo coronavírus começou a se agravar no país. Somente em maio, foram 960 mil solicitações, um aumento de 53% ante o mesmo período do ano passado

Com a expectativa de o desemprego aumentar, o movimento nas agências do trabalhador será intenso (foto: Jhonatan Vieira/Esp. CB/D.A Press)

Mais de 960 mil pessoas solicitaram o seguro-desemprego no país em maio passado. O dado é o pior da história e elevou para 1,9 milhão o número de brasileiros que precisaram recorrer ao benefício desde o início da pandemia do novo coronavírus. E analistas alertam que o desemprego ainda vai crescer em função da crise econômica provocada pela covid-19.

Os 960.258 pedidos registrados em maio representam um aumento de 53% em relação ao mesmo mês do ano passado (627.779) e de 28,3% na comparação com abril deste ano (748.540), quando a pandemia já havia feito a procura pelo seguro-desemprego disparar. Até agora, o recorde da série histórica, que teve início em 2000, era julho de 2014, quando mais de 840 mil pessoas recorreram ao seguro-desemprego.

Se forem consideradas as 235 mil solicitações protocoladas na segunda quinzena de março, quando a pandemia começou a se agravar e tiveram início as medidas de isolamento social, cerca de 1,94 milhão de brasileiros recorreram ao seguro-desemprego durante a quarentena.

Analistas dizem, contudo, que os números devem crescer, pois o avanço do desemprego vai continuar nos próximos meses. Projeções indicam que a taxa de desocupação vai passar dos atuais 12,6% da população ativa para 15% ou até 16% ao longo do ano. O próprio presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores que o número de desempregados do Brasil pode saltar dos 12,8 milhões registrados em abril para 18.

“O pior ainda não passou. Vamos ter um número elevado de pedidos de seguro-desemprego em junho e julho, em um patamar muito próximo ao de maio”, afirmou a economista-chefe da Reag, Simone Pasianotto.

Ela explicou que, devido ao fechamento do comércio, muitas empresas ajustaram o quadro de pessoal. Porém, uma nova leva de demissões deve ocorrer após a reabertura das atividades econômicas. “As empresas estão começando a abrir, e vão ter um custo a mais com isso. Mas a demanda não vai reagir tão rapidamente, porque a renda das famílias caiu e os consumidores estão mais cautelosos”, avaliou Simone.

indicador de emprego previsto, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), confirma essa tese. No fim de maio, a maior parte dos setores econômicos apresentou níveis negativos neste indicador, mostrando que ainda devem demitir mais do que em contratar. O comportamento foi verificado na indústria (-41,4 pontos), nos serviços (-37,9), na construção (-33,4) e no comércio (-20,2).

“Até agora, a maior parte dos pedidos de seguro-desemprego veio dos serviços e do comércio, que foram mais impactados e reagem mais rapidamente à crise. Mas a indústria, agora, deve contribuir de forma mais pesada com o indicador, porque é um setor que demora mais para fazer contratações e demissões”, comentou Simone Pasianotto.

De acordo com os dados do governo, a maior parte dos pedidos de seguro-desemprego em maio veio dos setores de serviços (42%) e comércio (25,8%) e partiu da região Sudeste.

Fila

O avanço do desemprego em um momento em que era preciso ficar em casa provocou certo represamento nos pedidos do seguro, no início da pandemia. Afinal, muitos que perderam o emprego nesse período deixaram de pedir o benefício porque as agências do trabalhador estavam fechadas e não sabiam como fazer a requisição de forma digital. O governo garantiu, porém, que não há mais fila de espera. Segundo o Ministério da Economia, diversas unidades do Sistema Nacional de Emprego (Sine) voltaram a atender o público no fim de abril.

Crédito para pequenos

Aguardado há mais de um mês pelos empresários do ramo de pequenos negócios, o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) deve enfim sair do papel nesta semana, promete o governo. É que as declarações da Receita Federal que servirão de base para os empréstimos começaram a chegar aos empresários ontem. A expectativa é que, com isso, os bancos já comecem a receber os pedidos de financiamento das MPEs. Uma fonte da equipe econômica informou que a maior parte dos bancos está em fase final de habilitação no Fundo Garantidor de Operações (FGO), que recebeu R$ 15,9 bilhões do Tesouro Nacional para oferecer como garantia aos empréstimos.

Fonte: Correio Braziliense