Conforme dados da IDC Brasil, empresa vendeu quase 4,5 milhões de celulares no país em 2020. Clientes da marca deve ser abocanhados por Samsung, Motorola ou Xiaomi. O fim da divisão de celulares da LG em todo o mundo terá efeitos relevantes no Brasil. A empresa precisará resolver questões trabalhistas, como necessidade de realocar funcionários e estabelecer um plano que ofereça alento também a fornecedores exclusivos da fábrica local. Terá de explicar como vai garantir que o comprador de celulares da marca sejam atendidos com garantia e peças de reposição com o encerramento das atividades. Mas fica ainda a pergunta quanto à configuração do mercado local. Quais empresas vão herdar os clientes da LG?
O mercado brasileiro de smartphones é concentrado. Segundo a IDC Brasil, apenas quatro empresas detêm 90% das vendas: Samsung, Motorola, LG e Apple. A LG vende por ano 4,5 milhões de celulares, o que lhe confere 12% de market share no Brasil, de acordo com dados da consultoria.
Tal concentração é uma grande barreira de entrada e dificulta a vida de fabricantes menores, como TCL, Positivo, Multilaser e Asus, que acabam focando no segmento de preço baixo a fim de evitar a rivalidade ferrenha do mercado premium e intermediário premium. Mas o mercado está cada vez mais maduro, e o cliente disposto a pagar mais pelo terceiro ou quarto smartphone.
Para Renato Meireles, analista de mercado de celulares e dispositivos da IDC Brasil, acende-se o sinal de alerta. “A LG realmente perdeu sustentação por conta do posicionamento de preços”, avalia. A empresa, diz, foi espremida pelas rivais no Brasil, e enfrentou ainda o avanço do mercado cinza, de celulares contrabandeados, principalmente da marca Xiaomi.
A fabricante tentava competir pelo cliente intermediário premium, segmento dominado por Samsung e Motorola no Brasil. Aqui, essas duas devem, portanto, ser as grandes receptoras dos clientes que até então compravam LG. Além da Xiaomi, principalmente dos revendores do mercado cinza.
Para as competidoras locais no topo da pirâmide, a notícia é positiva, avalia. Elas devem repartir os espólios. Mas para o consumidor e para varejistas, haverá diminuição da competição – a menos que outra fabricante venha ocupar o espaço deixado.
“Aquele fabricante que não oferta produto numa faixa de intermediário premium e superpremium está fora da briga por esses clientes. A LG tentou entrar nessa faixa, acabou não aguentando. Então é preocupação para o players menores”, resume.
Cenário global
No mundo, a situação da LG era pior do que considerando o Brasil isoladamente. Se aqui a fabricante tinha 12% de participação de mercado, lá fora tinha apenas 2%. Terminou 2020 como a 10ª colocada em celulares vendidos, após cair uma posição nos rankings formulados pela IDC. Seu segundo principal mercado eram os Estados Unidos, onde terminou o ano com 9% de share.
A empresa foi perdendo espaço aos poucos para fabricantes chineses, como Xiaomi, Oppo, Vivo. Também enfrentava a Samsung, que produz celulares para praticamente todas as faixas de preço. “Mas é estranha a decisão agora, pois o portfólio lançado pela LG em 2020 era muito bom e vinha tendo bons resultados. Foi realmente uma decisão estratégica de grupo, de olho nas receitas acumuladas”, finaliza Meireles.