Com desemprego em alta, brasileiros que conseguiram trabalho demonstram alívio

Desocupação no geral não apresenta queda significativa, mas país registra aumento em empregos de carteira assinada

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada na manhã desta terça-feira (31/8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 14,1% (14,4 milhões de pessoas) dos brasileiros estão desocupados. Mesmo com a pequena melhoria em relação ao trimestre anterior, que registrou 14,4% (14,8 milhões de pessoas) no índice, o IBGE informa que a população desocupada continua estável, ou seja, a melhora não demonstra uma retomada forte no emprego.

Cientes da dificuldade para começar a trabalhar, milhões de brasileiros demonstram preocupação. A quantidade de pessoas desalentadas, que são aquelas que desistiram de procurar emprego, foi de 5,6 milhões. No trimestre anterior, esse número era de quase 6 milhões de pessoas. Ainda assim, segundo a pesquisa, o número permanece estável.

Então, quem conseguiu retornar ao mercado de trabalho, demonstra alívio e almeja alavancar a carreira profissional, como é o caso do analista de requerimentos Leonardo Lobo. Após ter dificuldades para trabalhar em sua área depois de se formar no curso de ciência da computação, ele conseguiu emprego em maio deste ano. “Depois de terminar a faculdade eu já não podia estagiar. Cheguei a trabalhar em outras áreas, como eventos, mas também ficou difícil. Depois de dois anos procurando, eu consegui emprego na minha área, de carteira assinada, e foi um alívio muito grande”, explica o homem de 26 anos.

Quem está há mais tempo empregado, já demonstra uma confiança um pouco maior. É o caso do irmão de Leonardo, Rodrigo Lobo. Ele havia fechado um negócio na área de bares e restaurantes pouco antes do início da pandemia e começou a procurar emprego. Ficou cerca de seis meses à procura até conseguir trabalho como analista de sistemas em outra empresa. No início, o sentimento de alívio foi o mesmo do irmão e estava muito satisfeito com a nova fase profissional. Hoje, apesar de estar feliz com a vaga que ocupa, ele pensa em crescer dentro da empresa.

“Eu acho que a situação está muito difícil e por isso só tenho a agradecer por estar empregado. Quando voltei a trabalhar foi um alívio muito grande, até porque tenho um filho pequeno e preciso sustentar e dar boas condições a ele. Estou na minha empresa há um ano e meio mais ou menos e penso em evoluir aqui dentro e atingir um cargo maior”, disse o analista de sistemas de 31 anos.

Apesar da dificuldade de emprego, os dois irmãos trabalharem de carteira assinada está longe de ser uma coincidência. Após quatro trimestres, entre 2020 e 2021, sem aumento significativo, foram criadas 618 mil vagas de carteira assinada. Mesmo assim, em comparação ao fim de 2019, o número ainda fica distante do registrado no período pré-pandemia, como explica a analista da pesquisa Pnad Contínua, Adriana Beringuy.

“Agora, no segundo trimestre, depois de cerca de quatro trimestres sem uma expansão significativa. A carteira teve até uma expansão. Dada a perda durante a pandemia, embora haja uma pequena recuperação, ela não é suficiente para chegar perto do patamar ou do montante de carteira no período pré-pandemia. É um primeiro resultado importante para o mercado de trabalho, mas a gente precisa aguardar os próximos trimestres para saber se ela vai ser mantida. Haja vista que essa é uma categoria do emprego em que a pesquisa não vinha registrando aumento significativo”, observa a especialista.

Informalidade

Mesmo com a retomada, a analista explica que muitas pessoas recorrem a trabalhar por conta própria, mais por subsistência do que por uma tentativa de empreender. Segundo a pesquisa, a quantidade de trabalhadores nesta modalidade é de 24,8 milhões, recorde da série histórica com altas de 4,2% (mais 1 milhão de pessoas) ante o trimestre anterior, e 14,7% (3,2 milhões de pessoas).

Adriana explica que a maioria desses trabalhos são informais. São considerados informais empregados no setor privado sem carteira assinada, empregador sem CNPJ, trabalhador por conta própria sem CNPJ e trabalho doméstico sem carteira assinada.

Com isso, a taxa de informalidade do Brasil foi de 40,6% da população ocupada. As maiores taxas foram do Pará e do Maranhão, ambos com 60,5%, e as menores, de Santa Catarina (26,9%) e Distrito Federal (30,7%).

Renda

Apesar de haver mais pessoas trabalhando, o rendimento médio mensal no 2º trimestre de 2021 diminuiu. O valor atingido entre abril e junho foi de R$ 2.515, com redução tanto em relação ao 1º trimestre de 2021 (R$ 2.594) quanto ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.693). Entre as unidades da Federação, frente ao trimestre anterior, somente Rio Grande do Sul mostrou variação significativa (-5,2%). Frente ao mesmo trimestre de 2020, oito unidades da Federação tiveram queda, com destaque para Amazonas (-16,4%) e Ceará (-14,1%).

Essa diminuição pode estar ligada principalmente ao aumento de trabalhos informais. “Tem até mais pessoas trabalhando, mas com rendimentos menores. Isso pode estar ligado a este fato, que você tem crescimento da ocupação muito ligado ao trabalho informal, que são informações com menores rendimentos. Embora você tenha uma base de ocupados maior, a massa de rendimento gerada pelo montante de trabalhadores do que era no primeiro trimestre”, afirma Adriana.

A especialista do IBGE explica ainda que, para o país conseguir uma retomada econômica, além do aumento no número de empregos é preciso também alavancar a renda média das famílias, pois o crescimento do PIB e da economia passam pelo consumo. Mesmo assim, Adriana analisa que o resultado da pesquisa é positivo, pois mostra que há uma sinalização de melhoria para o país.

“Há uma recuperação no segundo trimestre deste ano, os números são favoráveis. Muitas atividades conseguiram ter seu primeiro crescimento anual depois de quatro trimestres”, explica. “Só que essa recuperação ainda está concentrada em algumas atividades, a maioria delas ainda registra contingente de trabalhadores que é bem menor do que era no fim do ano de 2019. Esses dados do 2º trimestre de 2021 são positivos para mostrar que algumas atribuições estão se recuperando, mas boa parte delas estão dentro da informalidade. Fazendo com que a gente tenha rendimento de trabalho bem menor”, completa.

A especialista continua a avaliação: “Você tem até mais pessoas trabalhando, mas o rendimento gerado por trabalhadores na economia como um todo e seu rendimento aquisitivo ainda sofre retrações. E a gente sabe que o consumo depende da renda. Para viabilizar o crescimento da economia, pois boa parte do PIB vem do consumo das famílias, então é preciso alavancar a retomada do trabalho”, diz.

Pesquisa

A Pnad Contínua é realizada em 211.334 residências de 3,5 mil municípios, aproximadamente. O IBGE considera como desempregado quem não tem trabalho e procurou algum nos 30 dias posteriores à semana em que os números foram coletados.

Fonte: Correio Braziliense