Rendimento da poupança deve ficar menor a partir da próxima quinta-feira

Queda da Selic deve reduzir rentabilidade para 5,77% ao ano mais a TR
Por muito tempo, a poupança foi uma forma de aplicação que não permitia ganhos reais, ou seja, não superava a inflação. Mas, desde que o Banco Central iniciou a política de corte de juros, a caderneta passou a ser uma aplicação atrativa. Os poupadores, no entanto, precisam ficar atentos. A partir da próxima quinta-feira (7/9), as regras de rentabilidade do investimento devem mudar, com a esperada queda da taxa básica de juros (Selic), pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. Com a alteração, o rendimento será de 70% da Selic mais a taxa referencial (TR), e isso resultará numa diminuição dos ganhos.

Essa mudança na fórmula de cálculo da caderneta — decidida em 2012, durante o governo Dilma Rousseff — ocorre toda vez que a taxa básica fica igual ou menor que 8,5% ao ano. O objetivo da alteração é estimular o investimento em fundos, principais financiadores da dívida pública. Por enquanto, a taxa está em 9,25% ao ano, mas a expectativa do mercado é de que caia um ponto percentual, para 8,25% anuais.

Pela regra vigente, a poupança rende 0,5% ao mês — 6,17% ao ano —mais a taxa de referência (TR). Caso se confirme a queda da Selic para 8,25%, o rendimento da caderneta vai cair para 5,77% ao ano mais a TR. E a expectativa é de que piore até o fim do ano, já que novas quedas da taxa básica são esperadas. O mercado aposta que a Selic termine 2017 em 7,25% ao ano, o que reduziria o ganho anual da poupança a 5,07% mais a TR.

Competitividade
Apesar da perda de rentabilidade, a poupança se mostra competitiva em relação a vários fundos de investimentos. Entre as vantagens da caderneta estão a isenção de pagamento de Imposto de Renda sobre ganhos e a inexistência de cobrança de taxa de administração que, em outros investimentos, come boa parte do dinheiro ganho. Segundo Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper, cabe ao investidor fazer as contas e comparar com o ganho da caderneta. Se o rendimento líquido dos fundos for menor, a poupança se torna um investimento melhor.

Em outubro de 2016, a caderneta passou a render mais que a inflação, depois de 21 meses de perda real. De lá para cá, a aplicação ficou cada vez mais atrativa com a queda do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA). De janeiro a junho deste ano, o indicador ficou em 1,18% e a expectativa é de que termine o ano em 3,45%.

“Podemos colocar um Imposto de Renda médio de 20%, além disso, muitos cobram taxas de administração altíssimas. Quando fecha a conta, vai ver que a inflação baixa permite que a poupança tenha um ganho mais positivo. O contrário também vale. A poupança perde a atratividade quando a inflação dispara”, diz Rocha.

O advogado João Batista, 55 anos, investe em fundos DI e sabe que a rentabilidade pode ficar menor que a da caderneta. Por enquanto, as aplicações dele apresentam resultados melhores, mas ele está de olho para não perder a melhor opção de investimento. “Eu procuro ter o melhor resultado sempre. Por enquanto, os fundos me dão rendimento líquido entre 0,66% e 0,7% ao mês, mas nunca se pode descartar outras aplicações”, afirma.

A poupança é o investimento mais conhecido dos brasileiros e considerado um dos mais fáceis para depósitos. Basta abrir uma conta no banco. Pela facilidade e competitividade, o investimento ganha força. Pedro Borges Neto, planejador financeiro da Planejar, afirma que, mesmo com a mudança nas regras, a rentabilidade pode ser maior que a dos fundos DI.

“Se pensarmos num fundo que tenha rendimento de 8,25% ao ano e cobre 2% de taxa de administração, o ganho diminui para 6,25%. Além disso, há a cobrança de impostos, diminuindo para menos que 5,77%, que é o que a poupança oferece”, exemplifica Neto.

Os fundos DI têm rendimento diário, ou seja, todo dia há mudança nos valores. O dinheiro na poupança só é reajustado no aniversário do mês. “Isso significa que, se a pessoa investir no dia 3 de setembro, só poderá resgatar com ganhos no dia 3 de outubro”, afirma Neto.
Acumulado
Os depósitos na poupança somaram R$ 683,2 bilhões no final de agosto. De janeiro a junho deste ano, o ganho real acumulado na aplicação foi o melhor em 11 anos. A rentabilidade neste período atingiu 4,25%, enquanto o IPCA foi de 1,43% no mesmo período.

A estudante de direito Patrícia Paiva, 20, está fazendo estágio num escritório de advocacia e recebe por volta de R$ 900 por mês. Desse dinheiro, ela separa entre R$ 300 e R$ 400 para guardar na poupança todo mês. “Eu juntei durante um ano e consegui comprar um carro. É complicado depender de transporte público. E, agora, meu próximo objetivo é comprar um apartamento”, afirma.

Patrícia diz que não sabe quais são os melhores investimentos, mas pretende pesquisar para conseguir ganhos maiores. Até que consiga fazer isso, deixa na poupança. “Assim, sei que não vou gastar. É uma forma de ter um dinheiro extra no futuro”, explica.

Guardar é preciso
Disciplina. Essa é a palavra-chave para quem quer começar a poupar, segundo o consultor financeiro da Libratta Rogério Olegário. Para ele, a principal regra que deve ser cumprida é “se pagar primeiro”, ou seja, quando a pessoa recebe a renda mensal, deve separar parte do valor para guardar, na poupança ou em outro investimento que tenha ganho real. “Não existe uma percentagem fixa, mas a retirada antes de iniciar os pagamentos do mês é fundamental. Se a pessoa deixar para o fim do mês, não vai sobrar”, destaca. Especialistas recomendam começar a poupar 10% da renda e, com o passar dos meses, tentar aumentar essa parcela.

Desde cedo, a estudante Júlia Pinheiro, 20 anos, aprendeu a economizar. Quando nasceu, o avô fez uma poupança e depositava, com ajuda dos pais, valores em datas festivas e quando podia. Ela nunca mexeu no dinheiro. Ao conseguir um estágio e ter renda própria, a estudante fez jus aos ensinamentos do avô e abriu a própria poupança. Deposita todos os meses mais da metade da bolsa que recebe.

“Eu tenho muito claro na minha cabeça que não vou mexer no dinheiro. O único objetivo é deixá-lo guardado, sem ter uma meta específica para a economia. Acho que é algo que as pessoas precisam aprender, porque acredito que há falta de educação financeira na sociedade. Muitas pessoas estão endividadas e, na minha opinião, isso é reflexo de uma falta de ensinamento do que fazer com os recursos financeiros desde criança”, avalia.
Lógica
A estudante opta por não esbanjar para fazer uma reserva. Segundo Júlia, é possível viver o mês sem usar o valor total do salário com a mesma qualidade de vida. “Eu janto fora, pago minha gasolina e faço as compras do dia a dia, mas nunca deixo que isso se sobressaia ao que preciso gastar”, destaca.

Especialistas afirmam que essa é a lógica para quem quer se preparar para o futuro. Eles ressaltam que o principal investimento que a pessoa pode fazer é mudar o próprio comportamento. Olegário, da Libratta, destaca que, depois de se controlar, a pessoa pode partir para aplicações financeiras. O primeiro passo, segundo ele, é se informar.

“Ninguém precisa ser um expert em economia e mercado, mas deve saber fazer as perguntas certas e chegar às respostas corretas. Sem conhecimento prévio, a pessoa não sai do lugar”, diz. “Além disso, é preciso entender que cada pessoa tem uma situação financeira diferente, com hábitos diferentes e objetivos diferentes. Um ativo financeiro é igual a um carro. Existem vários tipos, e cada um para um uso distinto que pode agradar a uns e não a outros. Então, é preciso entender o que é melhor para a pessoa, baseada no autoconhecimento e em objetivos a curto, médio e longo prazos”, completa o consultor.

Fernando Marcondes, planejador financeiro do Grupo GGR, defende que as pessoas precisam buscar opções que dão bons resultados. Na visão dele, não há um ativo específico que vai garantir bons resultados, como a poupança e os fundos de investimento, por exemplo.

“É preciso ter uma diversificação de aplicações em ações, renda fixa e multimercados. Temos que entender que os reajustes da mensalidade da escola, do plano de saúde e de outros gastos sobem mais que 6% ao ano. Cabe ao consumidor trabalhar para não perder o que tem de mais precioso: o poder de compra”, recomenda.
Fonte: Correio Braziliense

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