A expectativa de vida do brasileiro, ao nascer, teve uma redução de quase dois anos por conta da pandemia da Covid-19. Os cálculos foram feitos por pesquisadores no Brasil (pela Universidade Federal de Minas Gerais) e nos Estados Unidos (pela Escola de Saúde Pública de Harvard, Universidade de Princeton e Universidade do Sul da Califórnia).
Publicado na revista científica Nature Medicine na última terça-feira (29), o artigo do estudo descreve uma redução de 1,3 ano em 2020 e 1,8 ano no início de 2021. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores usaram dados do total de mortes em 2020 e entre janeiro e abril de 2021, e compararam com o total de mortes por Covid-19 em cada estado brasileiro.
O declínio calculado em 2020 representa um nível de mortalidade que não era visto desde 2014, segundo os pesquisadores. Entre pessoas com 65 anos, a redução na expectativa de vida, em 2020, foi de 0,9 ano – parâmetros que eram vistos no Brasil em 2012.
De acordo com os dados, o declínio foi maior entre os homens, com cerca de 1,57 ano. Entre as mulheres, a redução foi de 0,95 ano. Os resultados apontam um aumento na diferença entre os sexos em 0,6 ano.
Por quê?
Quando eventos como pandemias e guerras ocorrem, é esperada uma redução na expectativa de vida, mas com uma recuperação rápida. Segundo os pesquisadores, este foi o caso com a pandemia de influenza em 1918 nos Estados Unidos, quando a expectativa de vida ao nascer em 1919 foi maior do que em 1917. No Brasil, porém, o cenário pode ser diferente.
“Nós argumentamos que, no caso da Covid-19 no Brasil, essa recuperação não acontecerá em 2021, e a trajetória de ganhos anuais pré-pandêmicos na expectativa de vida ao nascer irá, provavelmente, reduzir”, explicam os pesquisadores no artigo.
Das razões pelas quais os autores do estudo argumentam que a perda não será reparada em 2021, eles citam que a mortalidade por Covid-19 em 2021 já reduziu em 1,8 ano a expectativa de vida e o efeito até dezembro poderá ser ainda pior. Outro argumento é com relação aos cuidados da saúde primária no Brasil, que também foram abalados pela pandemia.
“Isso [a pandemia] comprometeu o rastreamento do câncer, com redução de cerca de 35% em novos diagnósticos. A imunização infantil foi reduzida, principalmente entre crianças que vivem nas regiões mais pobres do Norte do país. A interrupção do tratamento e diagnóstico de tuberculose e HIV podem aumentar a mortalidade nos próximos cinco anos”, elencam os pesquisadores.
Ainda, os relatos de sequelas decorrentes da Covid-19 também podem prejudicar os números da expectativa de vida, além dos abalos causados pela crise econômica – especialmente pelo corte do auxílio emergencial, ofertado pelo governo federal à população, ocorrido em dezembro de 2020.
Como quinto e último argumento, os pesquisadores citam as reduções nos orçamentos da Saúde e mudanças nos modelos de financiamento como fatores que poderão afetar os dados no país.
Diferenças entre os estados na expectativa de vida
Os estados mais impactados pela redução na expectativa de vida foram os do Norte do Brasil, segundo o estudo. Amazonas, por exemplo, teve uma redução de 3,46 anos. Amapá, 3,18 anos e Pará, 2,71 anos.
Já os estados do Nordeste também sofreram uma redução média de 2 anos, porém não tão significativa quanto o Norte. A justificativa para isso, segundo os autores do estudo, pode ter sido a adoção de medidas de distanciamento físico mais rigorosas.
Como surtos da Covid-19 apareceram primeiro nessas regiões e, mais tarde, nas regiões Sul e Sudeste, isso poderia explicar em parte por que estes estados não tiveram a mesma redução vista no Norte e Nordeste. No entanto, estados do Sul tendem a ter mais perdas na expectativa de vida em 2021 do que em 2020.
Fonte: Gazeta do Povo