Apesar de positivo, resultado mostrou desaceleração em relação a março. Ministro destaca resiliência da economia, que já abriu mais de 959 mil postos com carteira assinada neste ano. O Brasil, porém, ainda tem 14,4 milhões de pessoas desempregadas
Apesar de o país ainda ter um exército de 14,4 milhões de desempregados, o maior da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciada em 2012, o mercado de trabalho formal tem dado sinais de resistência em meio à pandemia da covid-19. Em abril, o saldo de vagas com carteira assinada cresceu 120,9 mil, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgados ontem.
O resultado foi decorrente da diferença entre 1.381.767 admissões e de 1.260.832 desligamentos e ficou abaixo das previsões do mercado, que apostava em 155 mil vagas novas. Foi o quarto mês consecutivo de alta, totalizando 957.889 postos criados desde janeiro, mas houve desaceleração após o pico de 398.184 vagas novas de fevereiro. Na comparação com março, houve queda de 31,8%, considerando os dados ajustados do órgão.
José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, reconheceu que o dado de abril do Caged veio abaixo do esperado, mas destacou que, mesmo assim, o número é positivo, porque reflete a recuperação dos indicadores da economia neste início do ano, que fez o mercado revisar para cima as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB).
“Todos os setores geraram emprego, e o de serviços respondeu por quase a metade do saldo de vagas, o que foi uma surpresa, porque houve medidas de restrição adotadas por vários estados, e esse segmento foi o mais afetado”, avaliou. “O dado do Caged veio de acordo com o que está acontecendo com a atividade, que está surpreendendo, e o mercado de trabalho formal está refletindo isso”, avaliou Camargo.
Conforme os números do Caged, os cinco grupos de atividades pesquisadas tiveram saldo positivo em abril, com 57.610 vagas criadas no setor de serviços. Em segundo lugar, a construção gerou 22.224 postos de trabalho.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou os resultados, principalmente, os quase um milhão de postos criados neste ano. Contudo, reconheceu que a desaceleração de abril foi reflexo do “grande impacto” da segunda onda da pandemia. Ele destacou a efetividade de medidas adotadas pelo governo, como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permite a redução da jornada e de salário em troca de manutenção de vagas.
“O Brasil está mostrando resiliência, os programas estão funcionando. E, principalmente, a vacinação em massa está entrando — e é com isso que estamos contando”, disse Guedes.
Dados regionais
Entre as 23 unidades federativas que registraram saldos positivos no mercado de trabalho formal em abril, São Paulo liderou o ranking do Caged, respondendo por 30,1 mil postos criados. Alagoas teve o maior número de vagas fechadas: 3,2 mil.
No Distrito Federal foram geradas 3,7 mil vagas, em abril, e 15,5 mil novos postos no acumulado do ano. Uma dessas posições foi ocupada por William Alves de Sousa, 36 anos, gerente comercial, que conseguiu emprego após quatro meses de procura. “Certamente, o fato de ter experiência em várias empresas ajudou, apesar não ter formação superior”, disse.
Já o estudante Samuel Amorim, 22 anos, está há três anos procurando emprego e não tem sucesso. “Faço faculdade de comunicação, mas o mercado piorou durante a pandemia”, lamentou. Para ele, o governo está demorando muito para tomar uma atitude para melhorar a situação dos jovens que, como ele, não conseguem arrumar emprego. “Uma oportunidade faz diferença”, ressaltou.
Conforme os dados do Caged, em abril, foram contabilizados 40,3 milhões de vínculos empregatícios formais, alta de 0,30% em relação ao estoque do mês anterior, e de 4,9% em relação ao mesmo intervalo de 2020. Esse dado, contudo, equivale a menos da metade dos 85,9 milhões da população ocupada estimada na pesquisa mais recente do IBGE referentes ao mercado de trabalho.
*Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo
3,1 milhões de postos mantidos
Mais de 3 milhões de trabalhadores tiveram o emprego preservado em abril graças ao Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), segundo balanço divulgado ontem pelo Ministério da Economia. O programa foi suspenso em dezembro de 2020 e, no fim do mês passado, renovado por mais quatro meses.
De acordo com o ministério, 2,9 milhões das vagas mantidas no mês passado são referentes a contratos assinados em 2020. Outros 208,9 mil resultam de acordos firmados entre os 28 e 30 de abril, após a reedição do BEm. Com isso, somaram 3,1 milhões as vagas preservadas pelo programa no mês passado.
Dados preliminares indicam que, em maio, outros 1,7 milhão de acordos foram assinados até o dia 17. Ao todo, portanto, já teriam sido assinados 1,9 milhão de contratos no novo programa, mas a pasta ainda não consolidou os dados deste mês.
O BEm é um programa que permite a redução da jornada ou de salário e garante um auxílio ao empregador, que tem o compromisso de manter o trabalhador empregado pelo mesmo período em que durar o acordo. No ano passado, o programa ajudou a preservar 10 milhões de empregos e foram desembolsados R$ 33,5 bilhões.
Para a nova edição do benefício, estão previstos R$ 10 bilhões, sendo que R$ 5,4 bilhões já foram comprometidos, de acordo com o ministério. Dos 1,9 milhão de acordos firmados, pouco mais da metade, 1,1 milhão, prevê a redução de 25% a 70% nos salários. O setor de serviços responde por 1,017 milhão dos acordos firmados, seguido pelo comércio, com 493,7 mil. (RH)
Jovens terão ajuda para obter emprego
O ministro da Economia, Paulo Guedes reafirmou ontem que o governo está preparando para lançar “muito brevemente” um programa para a inclusão dos brasileiros mais vulneráveis no mercado de trabalho, voltado para o incentivo à capacitação de jovens. A iniciativa prevê a criação do Bônus de Inclusão Produtiva (BIP), pago pelo governo, e o Bônus de Qualificação (BIQ), custeado pelos empresários, no valor total de R$ 600 por beneficiário. O ministro não deu maiores detalhes sobre o funcionamento do programa, que deverá beneficiar os chamados “nem-nem”, jovens que não estudam nem trabalham.
“Queremos evitar o efeito cicatriz dos jovens que se formam, chegam ao mercado de trabalho, mas não encontram empregos. No BIP, o governo vai pagar R$ 300, de um lado, e as empresas R$ 300, de outro lado, custeando cursos de qualificação. O jovem será treinado para desempenhar o papel que depois será o seu emprego. Algumas empresas importantes, como o McDonald’s, já têm conversado com governo”, disse o ministro, durante a apresentação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Segundo Guedes, o governo pretende dar um “olhar especial” para os mais vulneráveis que não conseguiram se formalizar. “Protegemos os ‘invisíveis’ com o auxílio emergencial. Agora, com nossas políticas de emprego, precisamos cuidar dos milhões de brasileiros que não conseguiram ingressar no mercado formal de trabalho”, acrescentou.
De acordo com ele, o programa não foi lançado ainda por questões orçamentárias. O governo tem recursos garantidos para financiar o programa por seis meses, após o fim da nova rodada do auxílio emergencial, mas está em negociação para ampliar o prazo para 12 meses. “Temos os recursos para este ano, mas em vez de lançar um contrato de seis, estamos tentando arrumar fontes para 2022, para que o contrato possa ter um ano, pelo menos”, afirmou.
Invisíveis
Ele reforçou que a iniciativa faz parte do que chamou de programas 2.0 do governo. “Essa nova geração de programas ajudará a empregar também os invisíveis. Não só vamos formalizar o trabalho, como vamos criar uma rampa de ascensão social. O Brasil já atravessou a onda do impacto econômico, agora temos que resistir à covid-19”, disse. “Estamos agora lançando um olhar, justamente, para evitar o que no mercado de trabalho, na nova literatura, se chama de efeito cicatriz, que são os jovens que estão chegando ao mercado de trabalho sem emprego porque a economia não está se movimentando, ou que não estão conseguindo acesso à educação”, destacou.
Os jovens que não estudam e nem trabalham, os “nem-nem”, respondem por 25% da população de 15 a 29 anos, conforme levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV). É a maior proporção de jovens nessa situação nos últimos oito anos, e o quadro se agravou com a chegada da pandemia de covid-19. (RH)
Fonte: Correio Braziliense