A taxa de desemprego do Brasil disparou no trimestre encerrado em agosto e chegou ao maior nível da série, enquanto o número de desempregados foi a 13,8 milhões diante do aumento da procura por trabalho com a flexibilização das medidas de isolamento social. O mercado de trabalho ainda sofre pesadamente os danos causados pela pandemia de coronavírus, registrando ainda no período o menor contingente de pessoas ocupadas na história da pesquisa.
A taxa de desemprego atingiu 14,4% no trimestre até agosto, contra 12,9% no trimestre imediatamente anterior e 11,8% no mesmo período de 2019.
Esse é o nível mais alto da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), iniciada em 2012, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ainda ficou levemente acima da mediana das previsões em pesquisa da Reuters, de 14,2% no período.
Nos três meses até agosto, o Brasil registrou 13,794 milhões de desempregados, o que representa alta de 8,5% em relação aos três meses imediatamente anteriores e avanço de 9,8% sobre o mesmo período do ano anterior.
“Antes as pessoas em isolamento não pressionavam o mercado porque estavam fora da força, já que não havia oportunidade, e agora há mais procura por trabalho”, explicou a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
“A despeito do auxílio (emergencial, pago pelo governo federal na pandemia), podemos dizer que já um aumento na procura por trabalho.”
Entre junho e agosto, houve ainda queda de 5,0% no número de pessoas ocupadas na comparação com o trimestre imediatamente anterior, além de recuo de 12,8% sobre o mesmo período do ano passado. O país contabilizava no total 81,666 milhões de pessoas empregadas, menor nível histórico.
De acordo com o IBGE, no trimestre entre março e maio houve perda da ocupação, mas também aumento da inatividade, já que as pessoas perdiam seus empregos mas não pressionavam o mercado devido ao isolamento social.
“O cenário que temos agora é da queda da ocupação em paralelo com o aumento da desocupação. As pessoas continuam sendo dispensadas, mas essa perda da ocupação está sendo acompanhada por uma maior pressão no mercado”, disse Beringuy.
Com isso, o nível de ocupação também caiu para a mínima histórica, de 46,8% ante 49,5% no trimestre anterior, quando, pela primeira vez ficou abaixo de 50%.
Os empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada somavam 8,755 milhões nos três meses até agosto, de 9,218 milhões nos três meses imediatamente anteriores.
Os que tinham carteira assinada no período eram 29,067 milhões, de 31,103 milhões antes, marcando também o menor contingente da série.
AGRICULTURA
Entre as atividades analisadas pela pesquisa, houve crescimento na população ocupada em apenas um dos dez grupamentos de atividade no trimestre encerrado em agosto.
O número de pessoas ocupadas em Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura aumentou 2,9% no período, ou 228 mil pessoas a mais trabalhando no setor.
No trimestre até agosto, a população ocupada da Indústria caiu 3,9, enquanto Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas teve retração de 4,7%, e Construção teve estabilidade.
“Com exceção da agricultura, as atividades estão demitindo, o que pode ter a ver com baixa demanda, fechamento do estabelecimento e com dinâmica da economia e padrão de consumo dos brasileiros”, completou a analista do IBGE.
O mercado de trabalho costuma ser o último a se recuperar das crises, e a pesquisa Focus realizada pelo Banco Central aponta que a expectativa do mercado é de que a economia sofrerá este ano uma contração de 4,81%, passando a um crescimento de 3,42% em 2021.
Dados do Ministério da Economia mostraram que o Brasil abriu 313.564 vagas formais de trabalho em setembro, melhor performance para o mês da série histórica iniciada em 1992 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Fonte: Reuters